Hidradenite supurativa
Atualizado em 10/01/2025
Também conhecida como acne inversa, trata-se de uma doença inflamatória crônica da pele decorrente da obstrução folicular nas áreas de glândulas apócrinas. Juntamente com a acne, foliculite dissecante e o cisto pilonidal, compõem a famosa família da tétrade de oclusão folicular.
Estima-se que a prevalência é de 4% da população, sendo mais frequente no sexo feminino e negros. Diversos fatores estariam envolvidos em sua patogênese como história familiar, obesidade, tabagismo, sexo feminino e uso de anticoncepcionais orais ou injetáveis a base de medroxiprogesterona e levonorgestrel.
A hidradenite supurativa , reconhecida como uma doença cutânea crônica e debilitante, apresenta desafios significativos tanto no diagnóstico quanto no tratamento. A associação da doença com antecedentes genéticos predisponentes, obesidade, tabagismo e oclusão cutânea, sexo feminino e uso de anticoncepcionais orais ou injetáveis a base de medroxiprogesterona e levonorgestrel, ressalta a complexidade de sua etiologia. A heterogeneidade genética se manifesta em formas esporádicas, familiares e sindrômicas, com foco em mutações nos genes do complexo γ-secretase, particularmente no NCSTN. A desregulação de mediadores imunológicos, incluindo TNF-α, IL-17, IL-1β e IL-12/23, desempenha um papel crucial na natureza inflamatória crônica. Avanços recentes na pesquisa genética identificaram potenciais alvos terapêuticos, levando ao desenvolvimento de terapias anti-TNF-α, anti-IL-17, anti-IL-1α e anti-IL-12/23 e inibidores de JAK. Essas intervenções são promissoras no alívio dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Usualmente inicia-se após a puberdade, coincidindo com o início da atividade das glândulas apócrinas, e acomete justamente as áreas ricas nessas glândulas, como axilas, virilhas, períneo e região inframamária.
Apresenta-se como nódulos inflamados , podendo evoluir para abcessos (ou abscessos) fistulizados, com odor característico, muito dolorosos e que, frequentemente, deixam cicatrizes inestéticas.
A classificação adequada facilita o acompanhamento e tratamento dos pacientes. Os estágios de Hurley são os mais comumente utilizados e estão descritos abaixo.
ESTÁGIO I – Abscessos sem fistulização e sem cicatrizes
ESTÁGIO II – Abscessos recorrentes, com formação de pontes e cicatrização
ESTÁGIO III – Abscessos difusos ou pontes interconectadas e múltiplos abscessos
Tratamento: As medidas gerais de tratamento visam modificação do estilo de vida, redução do peso e cessação do tabagismo como pilares do tratamento. Para redução da inflamação, tratamentos tópicos, sistêmicos, lasers e cirurgias podem ser realizados.
Nos quadros mais leves, apenas a clindamicina tópica pode ser utilizada, bem como resorcinol em creme e ácido fusídico.
Pacientes com doença mais avançada/grave, precisarão realizar tratamentos sistêmicos. De acordo com o Consenso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o uso de antibióticos como tetraciclina, doxiciclina, clindamicina + ofloxacino e clindamicina + rifampicina por 10 a 12 semanas é o tratamento de primeira linha. Importante atentar para o uso indiscriminado da rifampicina, pois pode levar a resistência bacteriana e esse medicamento é importante no esquema de tratamento da tuberculose e da hanseníase.
Para os pacientes que não apresentaram resposta satisfatória ao ciclo de antibiótico, o uso de imunobiológicos pode ser indicado. No Brasil, ecnontram-se aprovados pela ANVISA o adalimumabe (anti-TNF) e secuquinumabe (anti-IL-17A) para o tratamento da hidradenite supurativa.
Para os casos resistentes ou recidivantes, há inúmeras opções terapêuticas que podem ser tentadas para controle do quadro:
A isotretinóina, amplamente utilizada no tratamento da acne e hidradenite por inibir a queratinização, obstrução folicular e produção sebácea, não tem evidenciado resultados satisfatórios prolongados em estudos retrospectivos.
A finasterida na dose de 5mg/dia tem mostrado resultados promissores e sustentados nos pacientes que não respondem aos antibióticos, mas faltam estudos em grandes grupos populacionais. A teratogenicidade da droga deve sempre ser lembrada.
Metformina também pode ser tentada nos casos de falha terapêutica dos outros métodos.
Infliximab, adalimumab e ertanacept mostram bons resultados para os estágios II e III, resistentes a outros métodos.
Referências Bibliográficas
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